quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

não sei se é sonho se realidade

Ontem encontrei uma velha amiga, um pouco como o paul daquela vez, mas sem sexo antigo para romancear uma canção. Dizia, encontrei-a acastanhada de um Outono prolongado, numa forma muito idêntica, muito de acordo com a memória. Trauteia umas coisas, um ou outro gesto permanece na vontade de fazer parte de um mundo sempre a mexer. Mas não há nada de livre nisso. E fiquei triste.
Apanhei-a com olhos clementes, de bem com os dias, com vitórias mais ou menos expressivas sobre a vergonha de não acabar como se esperava há quinze anos atrás. Como um careca orgulhoso de uma bola cristalina e actual, ou de um banho curto e sem champô.
Nunca acreditei muito nos olhos dos outros. Gosto de bocas porque lhes é dada menos atenção e a gente às vezes encontra a verdade num dos dois cantos, ou no dente molhado que sobressai e espreme a carne à procura de uma dor controlada.
Mas ontem quis conhecer aqueles olhos fixados na trivialidade. Na minha trivialidade, na de quem me acompanhava, na trivialidade do jogo acelerado da televisão que, por pouco, não nos deixava espaço para o diálogo moribundo que insistia em consumar-se.
E nada. Fraternidade mascarada de minutos desconfortáveis. Truques antigos e ritmados para que a lógica prevalecesse.