quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

não gosto de títulos mas estou obrigado à simetria 3

1. A minha criatividade é um general japonês no fim da Segunda Guerra; desfez-se de vísceras desonradas. Morreu com o meu imaginário. Suicidou-se porque já não havia batalhas para suportar até ao último homem.

2. Escolho 23 canções de liberdade e sinto que as mereço. Estou repentinamente dentro de mim, acelerado, a rugir nas multidões desfalcadas de ser. Abro a boca a outra epopeia merdosa que joga às escondidas com as minhas lágrimas.

3. Vivo numa trincheira desabitada à espera de um inimigo a cores, um moribundo a quem possa tirar a vida e, muito mais do que isso, a vitória. Carrego a nossa bandeira num mundo livre, depois de ter derrubado regimes, tolhido prateleiras inteiras de manuais antigos, depois de ter varrido uma cultura despótica que nos tornava a todos piores. Carrego a nossa bandeira onde vem desenhado o Deus na maior das apologias.

4. Descanso depois do jantar entre um cohen e um whisky. Chamo a redenção e com ela aqueles que me ouvem. Conto-lhes tudo numa parábola de vinténs sossegados, às vezes nauseados com o ritmo. Conto sacrifícios, necessidades, abotoo desculpas e faço de mim um homem.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

tens razão

Lembro-me do dia em que te vi surgir e te repeti sem me cansar.

Tanto me fazia se já tinhas sido feita e refeita vezes sem conta, ou se não eras grande coisa há dez ou doze anos atrás.

Não era a ti que queria; serviste-me de cano, de circuito, de tomada daqueles quatro ou cinco anos tão breves como um salto de baleia inesperada mesmo ali. Cria de baleia inesperada.

Desafio-te a ti e a todos esses momentos de força que nos encontram agora amarrados a uma nova escuridão.

Esgano o Janeiro que aí vem. Já.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

adultério

Nem quero adiar o amor para outro século,
nem ter no bolso a alma de um poeta jovem
a quem tiraram a madrugada
.

guns can´t kill what soldiers can´t see

A arte serve os mais fortes.

Algures entre o choro egoísta e a inveja de não se querer mais nada para o próprio corpo.

Enfurece-me a dose diária da arte que não acaba e que está em todo o lado.

Ou porque não sou capaz de tanto, ou porque não é correcto que tanto e tão bom nos acomode só porque é semelhante ao que sentimos.

E é incorrecto não recuperar o tempo que nos faz perder.

É incorrecto não a dirigir à denúncia.

É incorrecto sofrer a morte sucessiva e antecipadamente. Sucessivamente e sucessivamente.

Dirão: denúncia? Denúncia do quê, não há nada senão a angústia em que acordo, que pouso de café em café até que chegue a noite e a insónia rebente de morte. Não há nada senão o nada que me acompanha e que me dói.

Também eu preciso de despejar gritos. Também quero contar as minhas dores sem as óbvias legendas de museu.

Mas não acho correcto.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

não gosto de títulos mas estou obrigado à simetria 2

Estão ambas à minha espera mesmo que não saibam
Querem-me vivo desperto mas só quando morro a brincar
Combatem ombro a ombro pelo meu aperto
Pelos acordes ondulados que não agradam
Mas finjo-me morto.
E na minha aldeia plácida só cabe o que eu quero

não gosto de títulos mas estou obrigado à simetria 1

Procuro um ecrã de conforto para me ver todos os dias como um peito para chorar a verdade.

Morra a Escrita Pim!

Começo com a banalidade que pretendo para as minhas palavras. E com excesso de cafeína.


Um hábito a manter: banalidade + cafeína.


Estou farto de escritores, muito mais de quase escritores anónimos.


Mais um menos um...